A cidade avança a passos largos no compromisso com a infância – pelo menos no papel timbrado da Prefeitura. Com pompa e circunstância, foram aprovados dois grandes marcos para o futuro das crianças: o Plano Municipal pela Primeira Infância (PMPI), um documento ambicioso que projeta um mundo ideal para os pequenos entre 2025 e 2035, e a Semana Municipal do Bebê, um evento recheado de palestras e debates sobre o bem-estar infantil.
Que maravilha! Agora, as crianças de Rio Brilhante têm direitos garantidos, diretrizes bem fundamentadas e um plano estratégico robusto para os próximos 10 anos. Só tem um detalhe – um detalhe minúsculo, quase irrelevante: faltam quase 200 vagas em creches. Mas quem precisa de um lugar para deixar os filhos quando se tem um comitê intersetorial e um extenso cronograma de conscientização?
Enquanto a Prefeitura elabora documentos e faz discursos sobre o “direito à beleza” (seja lá o que isso signifique), pais e mães continuam na rotina de equilibrar trabalho e filhos com a maestria de um artista de circo. Alguns recorrem a parentes, outros gastam o que não têm com babás. E há aqueles que torcem para que, entre uma palestra e outra da Semana do Bebê, alguém perceba que uma creche seria um investimento ligeiramente mais útil do que um seminário sobre a importância do afeto.
E se a situação não mudar? Bem, os pais podem tentar imprimir o Plano Municipal da Primeira Infância e usá-lo como um colchão improvisado para os filhos. Afinal, papel aceita tudo – até promessas políticas que ocupam muito espaço, mas não cabem dentro de uma sala de aula.
Enquanto isso, os pequenos cidadãos de Rio Brilhante aprendem, desde cedo, duas grandes lições: que discursos não resolvem problemas concretos e que o futuro pode até ser brilhante – só não se sabe para quem, nem quando.